Parafraseando minha amiga
Romeluzia : “ Como é difícil ser mamífero”.
Foi com muita tristeza que
constatei que não conseguiria amamentar Julia, em função da mamoplastia que fiz
há 20 anos atrás. Ainda guardava a esperança de ser uma exceção e conseguir por
alguns meses dar leite materno para minha bebê, mesmo tendo consciência de que
aleitamento materno exclusivamente seria impossível e que eu teria que
complementar com leite artificial.
Ao recebermos alta do hospital
questionei ao pediatra (neonatologista que recepcionou minha bebê) se não seria
necessário prescrever logo o leite artificial, pois embora a descida do leite
materno demore alguns dias para todas as mulheres, o meu caso ensejava uma
cautela maior.
Como eu tinha colostro, o
pediatra achou por bem aguardar um pouco mais e me orientou a colocá-la no
peito sempre que pudesse para estimular essa descida.
E assim, confiantes, saímos da
maternidade. Mal sabíamos os dias terríveis que se seguiriam.
Foram apenas 04 dias...é, 04
longos e tenebrosos dias com minha bebê chorando de fome, sem que eu tivesse
leite o suficiente para alimentá-la. Não conseguimos contato com o pediatra e
ainda acreditávamos que eu teria leite. Cheguei a ter os seios endurecidos,
semelhante à apojadura e crédulos, prosseguíamos tentando. Um estresse pavoroso
pelas noites em claro com ela chorando e só parando, quando adormecia por puro
cansaço. E nós, ingênua ou estupidamente, acreditando que o leite chegaria. Só de
lembrar me corta o coração e dá um nó na garganta.
Tivemos a ajuda de um anjo bom
chamado Joana, a tia Joaninha, que nos prestou todo o apoio que podia e muito
mais. Por duas vezes, inclusive, chegou a amamentar minha filhota. Nunca
poderemos recompensá-la à altura.
Somente na segunda-feira pudemos
ir ao banco de leite onde formos maravilhosamente acolhidos, sendo constatada
minha baixa produção e o pior: que Julia havia perdido mais de 20% do peso com
o qual nasceu. O tolerado é no máximo de 10 %. Foi um choque e uma angústia sem
fim. Senti-me culpada por ter feito a cirurgia e por não ter insistido com o
pediatra sobre o leite artificial. Coloquei a vida dela em risco e isso muito
me machuca.
Erramos sim, mas por ingenuidade,
despreparo e pela vontade enorme de amamentar minha filha.
Tentei de tudo para que mesmo
recebendo a alimentação artificial minha filha não largasse o peito...mas foi
em vão. Ainda na gravidez eu havia adquirido um produto chamado mama tutti, que
é usado em relactação e consiste em administrar o leite artificial por uma
sondinha colocada junto ao seio, ao mesmo tempo em que o bebê mama. Tal processo
deu certo algumas vezes mas tornou-se inviável pois é necessário ajuda de outra
pessoa além do custo acabar se tornando absurdo pois cada sondinha é
descartável.
Chorei muito, me angustiei e me culpei bastante
e até hoje sinto profundamente não poder ter amamentado minha filha, mas
procuro pensar que fiz o possível e que o vínculo que temos se constrói com
muito mais coisas que apenas a amamentação.